Imprensa

Região de Leiria, 08/06/2012

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Jovem flaviense cria videojogo que junta diversão e literatura

Descobrir novos horizontes através da poesia e aprender a língua portuguesa num jogo de computador foi o projecto que o flaviense Diogo Martins, 20 anos, desenvolveu para o curso de Design de Jogos Digitais. O videojogo, que conta com a colaboração de nove escritores portugueses conhecidos e premiados, como Afonso Cruz e Raquel Ochoa, vai estar disponível ao público no final do ano.
 Egas é um robô que quer ser poeta e, para consegui-lo, tem de encontrar páginas literárias com vista a descobrir-se a si próprio e começar a escrever um diário de bordo, onde vai anotando o que sente, bem como as suas vitórias e frustrações. Uma viagem que qualquer pessoa pode empreender no videojogo de plataformas independente, ou seja, sem controlo criativo, que o jovem flaviense Diogo Martins, 20 anos, criou com Ricardo Nogueira, Carlos Soares, Miguel Reis e Rafael Tabosa para o projecto final do curso de Design de Jogos Digitais do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), e que conta com a colaboração de nove escritores portugueses.
Juntar diversão e literatura num jogo que fizesse “parar para pensar” foi a ideia inicial dos estudantes. “Hoje em dia, os jogos são muito ligados à violência e, às vezes, perdem a parte que os mais antigos traziam, que é nos fazer chegar algo, contar uma história”, explicou à Voz de Chaves Diogo Martins. Tentaram escrever os textos, mas a falta de inspiração – e talvez de algum “jeito” – levou-os a convidar, por email, mais de 20 escritores conhecidos no panorama nacional. Responderam todos, mas no final ficaram nove, de variados estilos, a colaborar no projecto de forma voluntária: Afonso Cruz (também ilustrador), Carlos Vaz, Nuno Camarneiro, Nuno Guimarães, Paulo Kellerman (Grande Prémio do Conto da APE 2005), Pedro Guilherme-Moreira e Raquel Ochoa (Prémio Revelação Augustina Bessa-Luís).
“A maior parte são escritores conhecidos do grande público, com livros publicados e premiados. Alguns não são poetas, porque não queríamos pôr só poesia, mas escritores de literatura infanto-juvenil ou de romances que acharam que podiam dar o contributo deles, mesmo a escrever poesia. Acho que ficou engraçado!”, resume Diogo Martins, acrescentando que a opinião que os autores deram em relação à história do jogo “foi importante”. Toda a colaboração foi “feita à distância”, com “muitas horas passadas em frente ao computador”, acrescenta o jovem, que apenas se encontrou pessoalmente com dois escritores. A banda sonora do jogo foi composta pelo jovem músico “Braith”, aliás Eduardo Moreira, também natural de Chaves e a estudar Produção e Tecnologias da Música na Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE).
Jogo disponível ao público e escolas no final do ano
A concepção do jogo demorou mais do que o previsto – 5 meses – mas não tanto assim, tendo em conta que os estudantes tiveram de lidar com prazos, Direito Comercial, burocracias, negociações e mundo empresarial, que foi a maior dificuldade segundo Diogo Martins. A primeira versão do jogo será entregue ao IPB este mês de Setembro, para estar disponível ao público no final do ano e ser distribuído gratuitamente no site do Instituto e no próprio blogue (http://projectoegas.blogspot.pt). Uma vez que se trata de um projecto universitário, o jogo não pode ser comercializado com fins lucrativos, mas, uma vez que é educativo, já que é possível aprender a língua portuguesa ao jogar, haverá interesse em ser distribuído nas escolas.
“Quando nos foi proposto fazer um projecto, pensámos que devíamos aproveitar esta altura para testar coisas. Pensamos no que estava mal na indústria e se calhar tentamos mudar isso porque somos uma nova geração e em Portugal ainda não há  muito mercado de jogos”, confessa Diogo Martins, que sempre gostou da área de informática e design gráfico e decidiu arriscar no curso do IPB, o primeiro do género na Península Ibérica. No final da licenciatura, a saída mais provável é o estrangeiro, que, para o jovem, representa “uma oportunidade para termos capacidade de ir para fora e depois voltar e trazer conhecimento”.
Para já, as reacções ao robô sonhador “Egas” são positivas. “Acho que já passou o tempo dos jogos serem só jogos”, que hoje são cada vez menos solitários e mais “para partilhar” entre a geração das redes sociais, acredita Diogo Martins. Hoje, com o uso diário de computadores, telemóveis, tablets e internet, “cada vez mais a nossa vida real se confunde com a virtual”, conclui o jovem, que também é um dos fundadores do Movimento Cri’Arte, que procura dar oportunidades a jovens da região para mostrar os talentos que possuem nas diversas áreas artísticas e tem vindo a realizar espectáculos e exposições, nomeadamente no Teatro Experimental Flaviense. “É um movimento que tem pernas para andar. Nesta cidade, há talento suficiente e espaços onde se pode fazer muito”, garante.

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